Os encantos de Matosinhos: para além das praias e do peixe
É certo que muitos confundem Matosinhos com a cidade do Porto. Mas, embora sejam vizinhas, cada uma possui as suas particularidades e por isso: descobrir os encantos de Matosinhos é se surpreender com uma cidade piscatória que é muito mais que praias e peixe. Vamos a isso?
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1 – A lenda de Cayo Carpo
A lenda de Cayo Carpo está relacionada com a origem do nome Matosinhos, com a conversão da população ao cristianismo, com o culto ao Caminho de Santiago de Compostela e também com a associação da Vieira a Santiago. Não é à toa que, Matosinhos faz parte do Caminho Português!
O apóstolo Tiago, quando regressou à Palestina, no ano 44, após concretizar a sua missão de transmitir e difundir a palavra de Cristo no Noroeste da Península Ibérica, foi capturado e decapitado. Os seus seguidores decidiram recuperar o seu corpo e transportá-lo para Santiago de Compostela e assim, enterrá-lo na sua área de evangelização.
Enquanto faziam a travessia marítima, passaram por Matosinhos. Na ocasião, no areal da praia, estava acontecendo a festa de casamento de um romano com uma jovem princesa de Vila Nova de Gaia.
De repente, o noivo desafia os restantes cavaleiros para uma corrida invulgar de cavalos: venceria quem conseguisse entrar mais longe mar adentro. Para a surpresa de todos, o cavalo de Cayo Carpo avança, desenfreado, sobre as águas sem se afundar, em direção ao barco que estava transportando o corpo do apóstolo Tiago.
Cayo Carpo, perante o milagre, se converte ao cristianismo e quando regressa à praia, ele e o seu cavalo saem do mar cobertos de vieiras, consideradas, a partir daí, um dos símbolos do Caminho de Santiago. Também, diz a lenda que, Cayo Carpo surgiu completamente “matizadinho” de vieiras e, por esse motivo, passou a ser conhecido como o “Matizadinho” na praia do “Matizadinho”- nome que evolui, nos séculos seguintes, para Matosinhos.
2 – Zimbório do Senhor do Padrão
Escondido entre a urbana paisagem de Matosinhos e o Porto de Leixões, o Zimbório do Senhor do Padrão é um monumento construído no final do século XIX e que guarda algumas das várias lendas da cidade.
Antes da construção e do desenvolvimento da cidade, o Zimbório do Senhor do Padrão destacava-se no extenso areal da praia e podia ser visto a longas distâncias, tanto em terra como no mar. Segundo a lenda, foi exatamente neste local que, em 03 de maio de 124 surgiu no areal, uma imagem em madeira e em tamanho real de Cristo crucificado, que mais tarde passou a ser chamada de Bom Jesus de Bouças.
Nicodemos, um fariseu que presenciou os últimos momentos da vida de Cristo e o colocou no sepulcro, esculpiu várias imagens que retratam o episódio da crucificação e as lançou da Palestina ao Mediterrâneo. Uma delas é a que os oceanos trouxeram até Matosinhos. Outras terão ido parar a outros países, dando origem a outras lendas. Mas, a imagem que chegou até Matosinhos, tinha uma particularidade: estava sem um braço.
Eis que, 50 anos depois, uma mulher, que tinha uma filha surda-muda, foi recolher lenha na praia. Quando começou a fazer o fogo na lareira, percebeu que um dos pedaços teimava em não acender. A filha, que não falava desde o seu nascimento, falou para a mãe, em voz alta, que aquele pedaço de madeira era o braço que faltava na imagem do Bom Jesus de Matosinhos. A prova foi feita e o braço encaixou na perfeição. A imagem foi então guardada no mosteiro de Bouças, que hoje não passa de uma ruína e, mais tarde, transferida para a Igreja de Matosinhos.
Ainda há outras lendas e fatos curiosos relacionados ao Zimbório mas… deixamos este assunto para serem descobertos num tour com a Rita do Porto Encanta 😉
3 – Mercado Municipal de Matosinhos
Apesar da arquitetura moderna, feita pelos arquitetos Fortunato Cabral, Morais Soares e Cunha Leão, em 1950, o Mercado Municipal de Matosinhos é um dos espaços mais tradicionais da cidade.
Aqui, todos os dias, são comercializados peixes, mariscos, carnes, frutas, legumes, cogumelos, hortaliças, flores, animais… no estado mais puro e natural que existe. Não podemos desassociar o Mercado Municipal de Matosinhos do centro tradicional da cidade pois, desde a sua inauguração é considerado um ponto de referência incontornável, não só para os locais mas sim, para todos que se atrevem a descobrir os encantos de Matosinhos.
4 – Casa da famosa poetisa Florbela Espanca
Basta se distanciar, uma ou duas ruas, da praia de Matosinhos para encontrar uma vila piscatória que ainda mantém não só a tradição ligada ao peixe e ao mar, mas a sua arquitetura. São várias casinhas típicas de pescadores, com faixadas de azulejo e, dependendo da hora do dia, com roupas estendidas nos varais.
Entre as ruas e ruelas, muitas ainda como eram antigamente, há uma casa que quase passa despercebida, se não fosse um trecho de um poema estampado na porta da garagem. Sim, esta é a casa onde viveu e morreu a famosa poetisa Florbela Espanca!
5 – Igreja do Bom Jesus de Matosinhos
Por fora, a sua fachada em barroco, feita pelo arquiteto italiano Nicolau Nasoni – o mesmo que fez a Torre dos Clérigos e o Palácio do Freixo – e por dentro, o seu interior decorado com talha dourada em perfeito estado de conservação, não desapontam!
Mas, se arquitetura impressiona… as histórias e as lendas ligadas a igreja impressionam ainda mais. No altar, nenhum par de olhos fica indiferente a imagem de Cristo crucificado. Ou seja: a imagem que foi encontrada no Zimbório, lembra?
Além de ter dois metros de altura, estudos comprovam que está é a imagem de Cristo crucificado mais antiga de Portugal. Mas, entre todos os detalhes e fatos, o que mais surpreende é a simbologia do olhar, pois o olho esquerdo se dirige para o Céu e o direito para a Terra, numa clara simbiose entre Deus e o Homem.
6 – Conservas Pinhais
Por volta do século XX, Matosinhos era um grande ponto de concentração de fábricas de conservas. Milhares de latas de sardinhas eram produzidas, por mais de 50 fábricas, e enviada para vários países.
Impactadas pelo fim da Segunda Guerra Mundial, problemas como a escassez de peixes e pela entrada de concorrentes, muitas destas fábricas não sobreviveram e foram obrigadas a fechar suas portas, mudando por completo uma tradição que estava enraizada na cultura não só local, mas nacional.
Das duas fábricas que ali ainda se encontram, a Conversas Pinhais não só permaneceu mas persistiu em preservar todo o seu processo de fabrico artesanal e tradicional. Inclusive, é a única, em Portugal, que ainda produz conservas feito à mão, com exceção das duas máquinas que possuem a missão de fechar hermeticamente as latas.
O processo de fabrico realizado desde o primeiro dia de trabalho, em 1920, é a garantia de qualidade das conservas! Os temperos são fresco e selecionados a rigor. E quem assume todo o processo, desde quando chega o peixe até a embalagem são, cerca de, 100 mulheres. Muitas são avós, mães e netas!
Visitar os bastidores das Conservas Pinhais é uma verdadeira viagem no tempo. Não só pelo processo de fabrico, mas por toda a tradição que a fábrica cultiva. Desde os móveis e máquinas até ao simples hábito de rezar o terço todos os dias, ao fim de cada dia de trabalho. Tudo é genuíno!
Do mar para a lata. Do passado para o presente… a viagem não acaba sem antes, experimentar uma ou duas latas de conservas, acompanhadas com os vinhos de excelência da garrafeira Garage Wines.
Preparado para descobrir outros encantos de Matosinhos? 😍
O tour Os Encantos de Matosinhos incluí:
- Guia Local
- Visita na Conservas Pinhais
- Harmonização de conservas com vinho
Mais informações:
Com quem: Rita Branco
Quando: todos os dias
Ponto de encontro: Estação Matosinhos Sul
Duração: 3h a 4h
Idioma: português
Como: reservas através do email contato@oportoencanta.com ou +351 964 062 130
O tour “Os Encantos de Matosinhos” foi realizado a convite da Rita Branco – guia e autora do blog O Porto Encanta. Todas as opiniões são verdadeiras e reflexo de uma experiência real.
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